4/11/2010




Genebra, 9 abr (EFE).- Um ano depois da confirmação da aparição de um novo tipo de gripe e da primeira pandemia do século XXI, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda deve explicações sobre como um vírus de efeito moderado deixou o mundo em pânico.

Embora o alerta provocado pela crise tenha desaparecido aos poucos da memória coletiva, suas consequências financeiras e seu impacto negativo sobre a reputação e a credibilidade do organismo, referência mundial em saúde pública, continuam latentes.

A OMS se defendeu nos últimos meses ao apontar que sua responsabilidade era impor o princípio de precaução diante de um vírus desconhecido e cuja composição - combinando genes das gripes humana, aviária e suína - fez os cientistas acharem que estavam diante de um organismo altamente dado a mutações perigosas.

No entanto, em poucos meses se confirmou que o vírus A(H1N1) não tinha a periculosidade que lhe foi atribuída, o que deixou vários países com dívidas milionárias com a indústria farmacêutica após a compra de gigantescas quantidades de doses de vacina.

Foi o alarme soado pela OMS que serviu para justificar a produção em tempo recorde de uma vacina contra a gripe A, sobre a qual os países industrializados se debruçaram, enquanto esses remédios ficavam fora do alcance dos bolsos do resto do mundo.

De dentro da OMS surgiram críticas contra sua cúpula, à qual se reivindicou em vão que explicasse como foi calculado o número de vacinas compradas por cada país e por que não houve um estudo sério sobre quais pessoas deveriam ser vacinadas, em vez de deixar no ar a ideia de que toda a população deveria ser imunizada.

"A OMS tinha que dizer que havia necessidade de um cálculo cuidadoso do número de vacinas que cada país deveria adquirir para evitar o que aconteceu com a França, onde só 10% das pessoas se vacinaram frente a 90 milhões de doses compradas (30 milhões a mais do que a população total)", explicou à Agência Efe um especialista da organização que pediu para que sua identidade fosse preservada.

Além disso, "o discurso de vender e doar as vacinas (que sobram) ao mundo em desenvolvimento é irresponsável, porque o vírus não será o mesmo na próxima estação de gripe", acrescentou o especialista ao lembrar que os vírus da gripe têm uma grande propensão a sofrer mutações e nunca são os mesmos entre um ano e outro, razão pela qual as vacinas têm uma nova fórmula todos os anos.

Na prática, muitas campanhas de vacinação contra a gripe foram um grande fracasso, o que em parte se deve ao temor que a rapidez do desenvolvimento da vacina causou na opinião pública. Até mesmo profissionais da saúde mostraram reservas à imunização.

No final de dezembro, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, confessou que ainda não tinha se vacinado - alegou falta de tempo -, apesar de as vacinas estarem disponíveis há semanas na Suíça, país-sede do organismo e onde Chan reside.

Nos últimos meses, diversas situações puseram em dúvida a vontade de transparência da direção da OMS, como sua insistência em selecionar os veículos de imprensa que poderiam entrevistar pessoalmente seus responsáveis em meio a uma situação tão grave como uma pandemia.

Em janeiro passado, vários Governos elevaram a voz nas instâncias oficiais do organismo - incluindo seu Conselho Executivo - para reivindicar uma avaliação independente da atuação da instituição frente à gripe A.

Em 29 de março, a OMS anunciou finalmente que um "comitê de revisão" formado por 29 especialistas de diferentes países e áreas, começará em 12 de abril uma investigação de vários meses sobre como a pandemia foi administrada.

Entretanto, o "alcance" desta investigação será decidido pelo próprio comitê, segundo o 'número dois' da OMS, Keiji Fukuda.

Enquanto isso, ainda ficam sem resposta perguntas relacionadas ao silêncio do organismo diante da sensível questão da propriedade intelectual da vacina, patenteada e vendida pelos laboratórios ao preço médio de US$ 10 por dose.

A estimativa é de que versões genéricas da vacina custariam US$ 2 a dose e estariam ao alcance de muitos países em desenvolvimento que ficaram dependentes de doações.

Os mecanismos para produzir genéricos de um remédio ou vacina estão previstos em acordos internacionais em casos de "emergência sanitária", um conceito que claramente coincide com uma pandemia. EFE