Pesquisadores identificaram uma substância capaz de evitar o contágio por via sexual de um vírus similar ao HIV - conhecido como SIV - em macacas. A descoberta, descrita em artigo no site da revista científica Nature, alimenta a esperança de uma nova arma para diminuir o avanço da epidemia. Os cientistas acompanharam atentamente os primeiros dias depois do contágio e descreveram como uma infecção localizada no útero progride até espalhar-se para o organismo.
Nas primeiras horas, apenas um pequeno grupo de células do aparelho reprodutor é invadido pelos vírus. O tecido prejudicado inflama e o sistema imunológico recruta células-T CD4+ para debelar a infecção incipiente. A reação, no entanto, beneficia o vírus, que procurava justamente células de defesa para infectar e, assim, se espalhar pelo organismo. Os pesquisadores da Universidade de Minnesota formularam uma hipótese simples: se conseguissem impedir o processo inflamatório, a infecção permaneceria restrita ao útero e, assim, fracassaria.
Testaram, então, um gel com monolaurato de glicerol (GML, na sigla em inglês), aplicado na vagina de cinco macacas. Depois, simularam o contágio por via sexual inoculando até quatro doses de soluções ricas em vírus. Nenhuma fêmea desenvolveu a doença. Para controle do teste, realizaram o mesmo procedimento em cinco macacas que não usaram o gel: quatro contraíram a infecção.
O monolaurato de glicerol já foi utilizado como emulsificante de sorvetes. Desde 1992, pesquisadores investigam outras propriedades dessa substância, como a sua ação bactericida. Estudos recentes mostraram também que ela limita a produção de citocinas, proteínas responsáveis pelo processo inflamatório no corpo. “O GML é muito barato e seguro”, afirma Pat Schlievert, coautor do trabalho.
Humanos
Falta agora testar a eficácia do produto em seres humanos. Se os resultados forem similares, uma estimativa conservadora aponta redução de 60% no risco de infecção de mulheres em relações heterossexuais, uma prevenção anual de 800 mil novos casos. “O trabalho mostra que você não precisa atacar diretamente o vírus para impedir que ele infecte as células”, explica o infectologista Esper Kallás, da Universidade de São Paulo. “Você pode atuar no processo inflamatório que beneficia o vírus.”