5/26/2013

Motivos para motivações


Foto: Arquivo Pessoal
Por Luciano Brancalioni Capas

O pedal entrou na vida do engenheiro Luciano Brancalioni Capas em 2008 de forma totalmente despretensiosa.

Casado, pai de uma filha, ele tinha na época 30 anos e pesava 103 kg, para seu 1,80 metro de altura. O primeiro incentivo veio dos amigos do trabalho, que costumavam se reunir no final de semana para pedalar na Estrada Velha de Santos, antiga rodovia que ligava a capital ao litoral paulista, muito frequentada por ciclistas e triatletas pelas boas condições para treino e pela linda paisagem que a cerca, a partir de São Bernardo do Campo.

“Nesse primeiro pedal, fui com uma MTB muito fuleira, tão pesada quanto eu”, brinca Luciano. Lá, observou outros ciclistas pedalando em suas imponentes bikes de estrada e não teve dúvida de que era aquilo que ele gostaria de fazer dali em diante, retomando uma antiga paixão.

“Minha primeira bike na adolescência foi uma Monark 10. Sempre gostei de velocidade”, justifica. Na mesma semana, comprou a sua, uma Ballistic de alumínio, que estreou logo no domingo seguinte. Foi então que decidiu unir o útil — perder os quilos a mais que já estavam incomodando — ao agradável, que era cultivar um hobby saudável e divertido, junto aos amigos. “Comecei por brincadeira e para emagrecer, porque já estava passando do limite. Mais pela companhia dos amigos que pelo compromisso”, confessa.

No princípio, claro, foi um pouco difícil. “Eu me cansava muito, principalmente nas subidas, que nem eram tão íngremes assim”, recorda. Aos poucos, foi aumentando a velocidade, o número de voltas e ganhando condicionamento. 

Quando percebeu, já havia tomado gosto pela prática e perdido mais de 10 kg. Resolveu então procurar uma nutricionista para melhorar a dieta. Ao mesmo tempo, começou a correr, também por influência dos amigos. Daí a começar a se aventurar no triathlon foi um pulo — ou melhor, uma braçada.

Luciano já havia praticado natação quando mais jovem. Por isso, confiava, não teria dificuldade para se reiniciar nesse esporte e fazer a transição para o ciclismo e a corrida. “Era só retomar e juntar tudo, simples assim”, imaginava.

Em 2009, ele se inscreveu em um simulado de short. Fazia tempo que não nadava, mas sabia que conseguiria completar a distância do simulado pelo condicionamento que tinha adquirido quando praticava. Dito e feito. Ao final, após concluir a prova, sentiu o gostinho da adrenalina e percebeu que aquela seria a primeira de muitas provas. “Depois de fazer o simulado, fiquei empolgado e comecei levar o esporte a sério”, diz.

Ainda em 2009, também participou da Copa VO2 de ciclismo, na serra de Campos do Jordão (SP). “Foi muito bacana. Curti demais fazer essa prova, apesar de que não estava tão bem preparado quanto imaginava”, conta, acrescentando que completou o percurso em 3h23.

Algum tempo depois, um problema no joelho (“na banda iliotibial”) o obrigou a ficar de molho por seis meses. Nesse período pedalou pouco, nadou para manter o condicionamento aeróbico e fez fisioterapia e musculação para fortalecer a região. 

Em 2010, já recuperado, começou a treinar em uma assessoria esportiva e a participar de provas de short triathlon. Durante três anos competiu no circuito de short, até que começou a imaginar como seria participar da prova mais puxada da categoria. “Na assessoria já havia um grupo que treinava especificamente para o Ironman. Então, comecei a pensar sobre o desafio, na possibilidade de fazê-lo em 2014 ou 2015”, conta. Porém, no ano passado, ele foi para Florianópolis assistir a um amigo que ia participar da prova. Ficou tão empolgado com o que viu que voltou de lá já inscrito para a edição de 2013.

Ainda em 2012, no final do ano, resolveu experimentar uma prova com distância maior e fez o Long Distance de Pirassununga. Quando viu que dava conta do recado, começou a rotina de treinos com foco no Ironman. De lá para cá, já se foram quatro meses de trabalho duro, com muitos quilômetros percorridos a nado, pedalando e correndo. Faltando pouco menos de um mês para o grande dia, quando já começa a pintar aquela ansiedade, aquele frio na barriga, Luciano olha para trás e se lembra do começo despretensioso.

Hoje pesando 80 kg — ou seja, 23 a menos em relação à época em que começou a pedalar —, ele percebe o quanto o esporte mudou sua vida. “Passei a ver as coisas com outros olhos. Antes eu era nervoso, ansioso. O esporte me ajudou a ter mais autocontrole, me deu muito mais disposição no dia a dia, além de me proporcionar uma vida mais regrada e saudável”, avalia Luciano, que também usa o pedal para fugir do estresse. “Quando necessito tirar a tensão do dia a dia, revigorar a mente, pego a bike e pedalo por vários quilômetros. Sempre chego em casa mais leve. É minha terapia”, conclui. Então, bora pedalar que o estresse engorda!

Matéria publicada na Revista VO2 Max, edição 92, maio/13